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Um fenômeno cultural brasileiro: o “Summer Eletrohits”

  • Sophia Pacheco
  • May 1
  • 3 min read
A marca deixada pelos famosos CDs de compilação de músicas eletrônicas

Por: Sophia Pacheco


Se você cresceu no Brasil entre os anos 2000 e 2020, é bem provável que você já tenha ouvido falar do famoso “Summer Eletrohits”. Talvez, fazendo um palpite ousado, tenha sido sua porta de entrada para o mundo da música eletrônica, especialmente aquelas que estavam fazendo mais sucesso nas rádios e nos primórdios do canal da VEVO no Youtube. Como era de praxe, apenas com a aproximação do verão já era sinal de que as prateleiras das áreas de música das lojas de departamento (como as Lojas Americanas) estariam repletas desses específicos CDs. Em um tempo em que a moda eram os MP3s e MP4s, as coletâneas do Summer Eletrohits proporcionavam, além de um sucesso de consumo estrondoso, uma forma de resistência em formato físico em meio a uma digitalização crescente que dominava a indústria fonográfica nacional.

Essa “moda”, iniciada em janeiro de 2005 pela produtora Som Livre em parceria com o canal Multishow, ocorreu graças à percepção de uma necessidade do mercado sonoro: o público brasileiro, principalmente os jovens, consumia, cada vez mais, músicas eletrônicas internacionais. Como ainda havia pouca curadoria desse tipo de som em contextos nacionais, a ideia era reunir os maiores sucessos (ELETROHITS) em um único CD, com uma identidade visual vibrante e temática de verão, criando um produto que traduzisse em música a sensação da estação mais aguardada do ano (SUMMER).

Em uma proposta que mesclava curadoria mainstream com timing comercial, o projeto durou aproximadamente 15 anos com 16 edições lançadas. Na maioria delas, conquistou-se várias certificações de platina pela Pró-Música Brasil (antiga Associação Brasileira dos Produtores de Discos), entidade privada que representa as principais gravadoras do mercado musical do país. Esses reconhecimentos não só demonstravam o sucesso de vendas, como também o “termômetro” para o sucesso nas paradas das rádios e nas pistas do Brasil de um gênero antes ignorado.


Capa do CD da 6ª edição do "Summer Eletrohits" | Divulgação: Last.FM
Capa do CD da 6ª edição do "Summer Eletrohits" | Divulgação: Last.FM

Mais do que simples compilações, os CDs do Summer Eletrohits funcionavam como um espelho dos gostos sonoros daquela geração jovem. E, mesmo que não quisessem admitir, os mais velhos se viam cativados pelas compilações e sonhavam em fazer parte desse coletivo que ditava o “cool” e o “hype” das temporadas musicais. Assim, ao reunir hits de nomes como David Guetta, Bob Sinclar, Moony, Black Eyed Peas e Akon, além de faixas como Infinity 2008, I Gotta Feeling, Stereo Love, That’s My Name e Destination Calabria, os CDs condensavam a popularidade do mercado musical no verão brasileiro e na cena eletrônica global, permitindo a coexistência de diferentes gostos e estilos.

Tornando-se um símbolo imediato, esses repertórios não só consolidaram o gênero no Brasil, como também modificaram a maneira de se consumir estilos musicais, visto que antes o único jeito era assistindo a filmes, séries, novelas e comerciais de TV. Mudou-se uma atmosfera melodiosa, agora cheia de liberdade, diversão e pertencimento.

O Summer Eletrohits foi, ao mesmo tempo, cult e cringe, ousado e genérico, internacional e nacional. Era democrático e acessível. Fez parte de muitas infâncias, adolescências e fases adultas; é parte da memória afetiva de muitas pessoas.

Mas, acima de tudo, foi um fenômeno cultural que marcou momentos de grande transformação: entre a era do CD, dos fones de ouvido e dos streamings, esses compilados significavam a perfeita sintonia com as batidas vibrantes juvenis e febris do eletrônico.

Pergunte para qualquer pessoa sobre o assunto. Ela se lembrará de cada memória. E te dirá o mesmo que falei.

 
 
 

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